Todo empreendedor que recebe cartão vive um número: a taxa de chargeback. Esta semana, um novo critério de monitoramento industrial — o VAMP — consolidou métricas de fraude e disputa num único índice mais rígido. Em termos práticos: combina sinais que antes eram separados e cria um limite cujas violações podem levar à classificação “Above Standard”.
O efeito técnico é direto: provedores, adquirentes e lojistas passam a olhar para uma única linha vermelha. O efeito prático é político e humano. Quando métricas viram regras duras, quem sofre são os pequenos negócios que trabalham com margens apertadas e poucos recursos para contestar disputas. Também muda incentivos: processos legítimos de atendimento ao cliente podem virar custo que ninguém quer assumir.
Isso não é apenas um detalhe operacional. Em mercados de pagamentos em rápida expansão — estimativas apontam crescimento exponencial da infraestrutura de pagamentos em tempo real nos próximos anos — regras mal calibradas empobrecem a resiliência do ecossistema. Ao mesmo tempo, os gastos com sistemas de compliance e AML crescem: pesquisas setoriais projetam aumento expressivo de investimentos em prevenção até 2030, o que pressiona orçamentos e prioridades das empresas.
A lição de vida é simples e prática: medir sem contexto é punir. Políticas baseadas apenas em thresholds criam atalhos que transferem riscos para quem tem menos voz. Em vez de terceirizar a responsabilidade ao algoritmo ou à métrica, organizações precisam reaprender duas coisas antigas: cooperação entre times (fraude, atendimento, finanças) e humildade para revisar regras quando elas ferem os mais frágeis.
Para líderes de produto e donos de negócio, a pergunta não é como escapar do limite hoje, mas como construir processos que reduzam disputas amanhã — melhores evidências, comunicação clara com clientes e estratégias de prevenção que não dependam só de tecnologia. O objetivo deveria ser criar mercados onde métricas informam decisões, não substituem o juízo humano.
Você prefere otimizar para um número ou para a sustentabilidade do seu relacionamento com clientes e parceiros?
Fontes:
Chargeblast: VAMP ratio analysis (Fintech Times)
Juniper Research via The Fintech Times: AML spending projection
AWS: modernization of real-time payment orchestration