Há decisões públicas que mudam regras do jogo silenciosamente. Dakota do Norte anunciou que planeja emitir uma stablecoin estadual chamada “Roughrider”, com lançamento previsto para início de 2026 em parceria com a plataforma da Fiserv. O movimento é factual, simples no anúncio — perigoso nas consequências.
Uma moeda digital emitida por um governo subnacional levanta perguntas técnicas e éticas: quem garante reservas? que leis federais são acionadas? como ficam os depósitos dos cidadãos? Nos mercados de pagamentos, onde o valor do tempo é literal, iniciativas locais podem criar janelas de arbitragem regulatória e fragmentação de liquidez. O mercado de pagamentos em tempo real já cresceu: segundo levantamento, valia US$24,91 bilhões em 2024 e projeta crescimento acelerado até 2032, o que explica o apetite por novos instrumentos.
Convém comparar com CBDCs e soluções privadas: um banco central busca estabilidade macro; uma startup busca escala; um estado busca autonomia política. Quando o emissor é uma unidade política menor, entramos numa zona cinzenta entre serviço público e produto financeiro — e os incentivos mudam. Pequenos beneficiários podem ganhar acesso mais rápido a meios digitais, mas os riscos sistêmicos (corridas, evasão regulatória, impacto sobre bancos locais) também aumentam.
Aprendi que tecnologia e vontade política não são suficientes sem regras que alinhem incentivos. Criar soluções locais é legítimo; lançá‑las sem planos claros de transparência, supervisão e proteção ao usuário é arriscar a confiança pública. A lição é humana: instituições importam porque organizam responsabilidades. Se um estado pode emitir moeda, quem responde quando algo der errado?
Fontes: https://www.americanbanker.com/payments/news/north-dakota-plans-to-issue-its-own-stablecoin https://aws.amazon.com/blogs/architecture/modernization-of-real-time-payment-orchestration-on-aws/
Você acha que soluções estaduais como essa resolvem problemas locais ou criam riscos que deveriam ser tratados no nível federal?