Todo mundo diz que otimização é progresso, mas a verdade é que metrificar tudo empobrece escolhas. Nos EUA, cerca de 80% dos carros vendidos hoje são preto, branco, cinza ou prata — um salto em relação aos 60% de 2004. Esse número não é só sobre gosto: reflete decisões industriais, hábitos de revenda e uma preferência coletiva por opções percebidas como “seguras”.
O curioso é como esse fenômeno ecoa fora das fábricas. No design digital, testes A/B e métricas de conversão empurram equipes a favor de variações neutras que rendem cliques. No varejo, paletas padronizadas reduzem custo logístico e facilitam produção em escala. O resultado é uma paisagem — física e virtual — onde a diversidade visual encolhe porque ela custa algo que os indicadores não valorizam: risco, surpresa, emoção.
Existem ganhos reais nessa lógica: eficiência, previsibilidade e menores custos. Mas também há perdas sutis que afetam qualidade de vida. Cores, formas e escolhas que provocam prazer não são só frivolidade; são mapas de identidade coletiva e pequenos pontos de resistência contra um mundo excessivamente calculado.
A lição não é rejeitar métricas — é resgatar critérios humanos que não entram facilmente em planilhas. Em produto, em arte ou na escolha do carro, vale perguntar: estamos escolhendo pelo que nos serve ou pelo que os indicadores apontam como seguro? Às vezes a coragem de escolher uma cor fora da média é um ato de autocuidado e de cultura.