Bebês concebidos por robôs entram no debate público

Uma manchete choca, mas a pergunta real é prática: o que perdemos ao delegar nascimento e cuidado a máquinas? Uma reflexão sobre laços, responsabilidade e limites da tecnologia.

Robôs concebendo bebês soa como roteiro de filme — e é exatamente aí que mora o perigo: reduzir o íntimo à eficiência é decidir por gerações inteiras sem ouvir quem nasce.

Nas últimas semanas notícias sobre ‘bebês concebidos por robôs’ reacenderam um debate que já existe nas bordas da reprodução assistida: até que ponto tecnologia que facilita vida humana passa a redesenhar vínculos? A tecnologia concede capacidade, mas não distribui sentido. O mesmo impulso que torna possível fertilização in vitro, óvulos doados ou maternidade por substituição pode, quando combinado a automação e IA, deslocar decisões essenciais sobre cuidado, autonomia e responsabilidade.

Não estou propondo um retorno ao passado. Estou propondo atenção: quando delegamos fases fundamentais da existência a máquinas, criamos lacunas de responsabilidade. Quem responde por decisões algorítmicas sobre seleção embrionária, por prioridades de saúde implementadas por código ou por interações afetivas simuladas por “pais robóticos”? Regulação, ética clínica e democracia precisam entrar na sala antes que a tecnologia sente na cadeira principal.

Há precedentes úteis. Práticas que outrora pareciam impensáveis — como a fertilização in vitro — foram integradas à sociedade através de debate público, legislação e cuidado longitudinal com famílias. O que muda agora é a velocidade: algoritmos aprendem mais rápido do que conseguimos legislar. A lição é simples e dura: tecnologia amplia possibilidades, mas não substitui presença, escuta e responsabilidade coletiva.

Se aceitamos que um corpo humano ou uma vida possa ser entregue à lógica de eficiência, aceitamos também perder parte do que nos torna humanos: a paciência para errar, o risco de cuidar mal e a oportunidade de aprender com isso. Antes de aplaudir a invenção, precisamos decidir quais valores estarão embutidos no código.

Fontes: Metro World News Brasil