Todo mundo quer dinheiro em segundos; a novidade é que empresas agora prometem isso entre pessoas em qualquer país — e a pressa tem um preço.
Nos últimos dias Paysend anunciou um serviço de transferências globais instantâneas que permite mover dinheiro P2P em tempo real usando apenas um smartphone. Na prática, isso encurta distâncias para quem envia remessa, reduz custos de espera e abre portas para novos negócios. Mas, como toda tecnologia que acelera fluxos, carrega efeitos colaterais invisíveis.
O mercado de pagamentos em tempo real cresce em ritmo exponencial: relatórios setoriais apontam um salto projetado de USD 24,9 bilhões em 2024 para USD 284,5 bilhões até 2032, mostrando que velocidade virou infraestrutura estratégica. Quando o ritmo muda, regras, controles e incentivos precisam acompanhar — e normalmente não acompanham na mesma velocidade.
Para brasileiros que dependem de remessas ou freelancers que recebem do exterior, a promessa de liquidação imediata pode significar alívio. Para reguladores, significa uma nova janela para lavagem, evasão e arbitragem cambial. Para provedores, significa responsabilidade em tempo real por decisões que antes tinham “tempo” para verificação. E para usuários, significa delegar confiança a sistemas que mixam identidades, roteiros e liquidez instantânea.
Não é uma condenação da velocidade. É um lembrete: infraestrutura monetária define comportamentos. A conveniência tende a deslocar fricções que antes serviam como guardrails — e onde os guardrails desaparecem, surgem perdas humanas e sistêmicas. Estudos sobre fraude e ciberataques também mostram que ambientes mais rápidos e abertos aumentam a superfície de ataque, exigindo controles novos e compartilhados.
Qual a lição? Velocidade sem desenho de incentivos é risco embutido. Se você constrói para ser instantâneo, projete para ser responsável no mesmo instante: regras claras, monitoramento colaborativo e educação do usuário. Caso contrário, a mesma rapidez que ajuda a pagar uma conta pode tornar irreversível um erro ou um golpe.
Fontes:
Paysend — lançamento de transferências instantâneas
Relatório sobre crescimento do mercado de pagamentos em tempo real (AWS)
Discussão sobre stablecoins e PSPs (The Fintech Times)
Estado da fraude e risco cibernético (Finovate)