Todo feed promete descoberta; a política promete controle. Na sexta, a Casa Branca detalhou um acordo que entregaria seis de sete assentos do conselho do TikTok a americanos e colocaria o algoritmo sob controle dos EUA (TechCrunch).
Por detrás do anúncio há uma pergunta simples: quando você muda quem senta na mesa que mexe no algoritmo, o que muda de verdade? Pense assim: o algoritmo é o mapa que orienta 1 bilhão de jornadas diárias. Quem desenha o mapa escolhe rotas, atalhos e zonas de risco. Trocar os cartógrafos não elimina os recortes políticos que o mapa carrega — apenas muda os interesses por trás deles.
Vi um criador que vive de vídeos locais perder alcance em 48 horas num teste de moderação de conteúdo: não foi banido, foi redirecionado. Se o algoritmo passar a responder a uma jurisdição, decisões técnicas virarão decisões geopolíticas. Privacidade, moderação e competição se entrelaçam: controle do algoritmo pode proteger dados, mas também pode alinhar recomendações a prioridades nacionais.
Existe ainda o risco prático: quem audita um algoritmo controlado por um país que também tem interesses comerciais e de segurança? Transparência não acontece só dizendo “é controlado por americanos”; exige auditoria independente, metas públicas e métricas mensuráveis de impacto — não apenas uma maioria de assentos num conselho.
O movimento pode ser uma solução tática contra riscos reais de segurança, mas também abre espaço para fragmentação do que entendemos por internet global. Fragmentação significa que comportamentos, tendências e até economias de criadores podem divergir conforme a versão do algoritmo que chega ao usuário.
Não é um debate técnico isolado: é um debate sobre quem escolhe o que milhões de pessoas leem, aprendem e compram. Se entregar o controle resolve um problema, cria outros — e a próxima crise pode nascer dessa escolha.
Qual é o limite aceitável entre segurança nacional e autonomia digital? Como garantir auditoria real quando a tecnologia vira peça de negociação entre governos?